terça-feira, 11 de setembro de 2012

As duas caras de Pedro Passos Coelho


O Primeiro-Ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, viveu um fim-de-semana negro, fruto de falhas incríveis na comunicação, que se só justificam pelo amadorismo dos seus colaboradores ou pela total insensibilidade do governante quanto aos sinais que deve emitir para o País. O resultado foi um governante com duas caras, ou com dois posicionamentos no espaço público mediático: brutal a falar na televisão e carinhoso a falar no Facebook.
Tudo começou na desastrada comunicação ao País de um novo pacote de medidas de austeridade, muito mal justificado, confirmando que, em Portugal, os mais fracos pagam a crise e os poderosos são protegidos, porque governantes com vidas assentes em carreiras profissionais pouco sólidas não têm peso político e pessoal suficiente para enfrentar os interesses da alta finança, da banca e das grandes empresas dos amigalhaços. Além disso, foi uma comunicação proferida antes da transmissão televisiva de um jogo oficial da seleção portuguesa de futebol, outro erro crasso de comunicação, pois evidenciou uma subestimação grave da inteligência dos portugueses.
Em minha opinião, no fim-de-semana negro de Passos Coelho, o mais grave aconteceu depois. Na própria noite de sexta-feira, o Primeiro-Ministro teve a ousadia de ir divertir-se com a mulher num concerto de Paulo de Carvalho, tendo sido fotografado a cantar (ver imagens aqui e aqui). E, no dia seguinte, entrou na sua página no Facebook, onde só vai de longe a longe, e escreveu aos milhares de seguidores na qualidade de “cidadão e de pai”, para, humanamente, explicar-lhes a paulada brutal que, um dia antes, tinha dado em todos os portugueses na qualidade de Primeiro-Ministro.
Ora, o que a versão digital de Pedro Passos Coelho fez no Facebook (ver aqui) foi desacreditar a sua presença na maior rede social do mundo – talvez para sempre –, uma vez que há um outro Passos Coelho, aquele que é real, que vai ao bolso dos cidadãos sempre que precisa de travar o descontrolo da despesa pública, que fala pela televisão minutos antes do jogo de futebol da seleção, e que as pessoas têm levar em conta. Pelo contrário, a figura digital de Passos Coelho, que tenta ser um tipo simpático, de rosto humano, que entra no Facebook como “cidadão” e como “pai”, como se um Primeiro-Ministro pudesse ser um homem normal, não pode ser levada a sério. O erro de comunicação está nesta dupla personalidade, nas duas caras assumidas pelo Primeiro-Ministro.
Ora, se Passos Coelho pretendia corrigir alguma coisa, saiu-lhe, evidentemente, o tiro pela culatra. Pois só ganhou milhares de insultos e críticas corrosivas. Porque os cidadãos já começam a ter alguma formação, já começam a ter consciência de que a Internet é uma arma, já sabem mexer nos computadores e nos smartphones, e já não têm paciência para estas brincadeiras digitais de políticos impreparados e mal aconselhados.
As consequências desta aventura facebookiana de Passos Coelho saltaram rapidamente para o espaço público mediático, tendo sido objeto de ridicularização num episódio da “Mixórdia de Temáticas”, na Rádio Comercial, através do brilhante Ricardo Araújo Pereira, num dos programas radiofónicos mais ouvidos e mais vistos no País (ver aqui).
Como diz Rui Calafate, no seu blogue It’s PR Stupid (ver aqui e aqui), é nisto que resulta contratar para o setor da comunicação o amadorismo e a incompetência dos amigos de empresas que fecham e abrem com outro nome e a imaturidade da rapaziada das organizações partidárias de juventude, cuja vida ativa precisa de um impulso urgente num gabinete ministerial. É por causa dessa incompetência e dessa imaturidade que o Governo, através do Ministério da Paulo Portas, por exemplo, até anuncia em “Diário da República” a contratação de um indivíduo “do partido político CDS/PP” (ver aqui Despacho 8443/2012, da Subsecretária de Estado Adjunta do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros). É também por causa desse amadorismo que os documentos internos, cuja confidencialidade deveria ser sagrada, aparecem nos jornais (ver aqui).

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