terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Luís Paixão Martins e o marketing político eleitoral


Tudo tem o seu valor. E o valor de uma entrevista jornalística pode ser medido a partir de múltiplos ângulos, nomeadamente em função da perenidade daquilo que diz a pessoa entrevistada. Nessa perspectiva, uma entrevista pode valer por aquilo que retemos dela algum tempo depois. Mas estamos sempre perante um valor muito subjectivo, que depende sempre da atenção, do conhecimento, do interesse e da percepção de cada leitor.
Muitas vezes, quando arrumo os meus papéis, tropeço em publicações antigas. No último fim-de-semana, achei uma entrevista do consultor de comunicação Luís Paixão Martins ao jornal “i”, publicada em 22 de Junho de 2009 (ler na íntegra aqui). E constatei que o líder da LPM Comunicação – que ocupa a liderança do mercado de consultoria e aconselhamento estratégico em marketing e comunicação – disse algumas coisas sobre o marketing político eleitoral que, passados dois anos e meio, ainda continuam válidas. Por isso, recupero as ideias que se seguem:

“Os eleitores já não vão lá com marketing, nem com propostas mobilizadoras, nem com promessas ou chavões.”

“Uma campanha eleitoral é apenas uma campanha de comunicação assente nos conceitos de coerência, continuidade e crescimento.”

“De cada partido da oposição espera-se que seja agendada uma crítica ao governo por dia, a tempo de fazer os telejornais. Se não for a postura do primeiro-ministro, é outra coisa qualquer. O que seria surpreendente é que aplaudisse.”

“As sondagens? Um dos problemas dos consultores de marketing político, hoje em dia, é a dificuldade que sentem em cumprir a sua missão num momento em que a fiabilidade das sondagens está em crise. Não por culpa, certamente, de quem as faz, mas em consequência da frustração, da perplexidade e do cinismo dos eleitores.”

“Concordo com a existência de um sistema de auditoria às sondagens, não com a proibição da sua divulgação. Mas, como consultor, sempre entendi que uma sondagem é apenas um instrumento de trabalho. Às vezes, pela maneira como são publicitadas, as sondagens parecem a ‘real thing’ [coisa real].”

“Sinto orgulho em ter contribuído para o aumento da relevância e da projecção das consultoras de comunicação portuguesas no marketing eleitoral. Neste contexto, fiquei muito desapontado por não termos tido nenhuma consultora de comunicação envolvida na campanha das europeias [2009]. Tenho a certeza de que as consultoras de comunicação teriam ajudado a mobilizar os eleitores e a diminuir a abstenção. Eu, pessoalmente, gostaria de ter contribuído para isso. Foi pena.”

“Os 'grandes educadores' como o doutor Pacheco Pereira opor-se-ão sempre às iniciativas transparentes e assumidas que popularizem a política, que melhorem a informação dos cidadãos e tornem mais transparente a actividade dos partidos. Querem perpetuar a ideia da vanguarda da classe operária. Pelos vistos, para essa gente falta-nos a legitimidade que tinham os consultores brasileiros, americanos e espanhóis contratados às escondidas e pagos pela porta do cavalo. Eu, como, ao contrário do doutor Pacheco Pereira, nunca fui presidente de uma distrital partidária desse tempo, não consigo compreender por que os consultores estrangeiros que recebiam o dinheiro em ‘cash’ tinham mais legitimidade do que têm, hoje em dia, as consultoras portuguesas que orçamentam, facturam e pagam impostos. Mas, provavelmente, sou eu que estou errado e haverá alguns saudosos desse passado. É a vida.”

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