quarta-feira, 24 de agosto de 2011

S. Bento. Um escândalo no centro do Porto


O que se passa na estação ferroviária de S. Bento, em pleno centro histórico do Porto, é escandaloso. Há vários anos que se fala de um projecto de reabilitação da estação. As obras começaram, mas foram avançando a passo de caracol. Não admira, pois tratava-se apenas de proteger um património constituído por 20 mil azulejos lindíssimos que revestem o “hall” principal da estação, que retratam a história do transporte e evocam batalhas históricas. Entretanto, por estes dias, a revista norte-americana “Travel+Leisure” incluiu o imponente edifício na lista das 14 mais belas estações ferroviárias do mundo, dando-lhe visibilidade internacional e potenciando o turismo português.
Sabemos agora, através do “Público”, que as obras estão oficialmente suspensas, fruto “da actual conjuntura”. O projecto contemplava um parque de estacionamento e um novo edifício destinado a comércio, serviços e habitação, mas a megalomania não passou na malha do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar). A coisa ficou pela limpeza das paredes e dos azulejos.
A empresa responsável pelas obras resulta do regabofe em que se tornou o Estado: a empresa pública Invesfer (que supostamente deveria tratar das infra-estruturas ferroviárias) criou a ESBento – uma empresa com a tarefa exclusiva de reabilitar a estação de S. Bento.
É assim: em Portugal é possível gastar milhões sem controlo para construir aeroportos em locais sem tráfego aéreo e sem acessibilidades, como acontece em Beja (cujo “site” continua à espera de uma versão em inglês…), e criar uma empresa só para fazer obras de reabilitação de uma estação conhecida mundialmente, obras essas que ficam pelo caminho, mesmo sendo necessárias. Tudo isto demonstra que Portugal não tem uma estratégia definida para o turismo, nem para o património ou para a economia.  
Enquanto a imagem de marca for a bagunça, não vale a pena criar outra marca para vender Portugal no exterior. O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, que por sinal também tutela os transportes, tem aqui uma prova de fogo.

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