sexta-feira, 13 de maio de 2011

O jornal oficial de um partido não é um "pentelho"...


Agora que estamos em campanha eleitoral, talvez seja o momento certo para debater o papel dos jornais partidários numa sociedade tecnológica, de informação, por natureza aberta, plural e ligada em rede, onde um fluxo de informação e de conhecimento está em movimento contínuo, à disposição de todos. Neste contexto hiperinformativo, os jornais partidários ainda serão úteis, como eram há 30 anos, ou já não têm utilidade nenhuma? Sendo úteis, serão bem elaborados ou mal elaborados? Acompanharam a evolução dos tempos ou foram ficando pelo caminho? Será que os partidos fazem estudos de opinião para saber de que forma é que devem comunicar com os militantes e com a sociedade ou entregam-se ao primeiro “marketeiro” que aparecer?
Um dos jornais partidários mais conhecidos, o “Povo Livre”, apresentado como “a histórica publicação da social-democracia portuguesa”, revela ser o caso de um jornal partidário mal aproveitado, sem grande utilidade na sua função de agente de divulgação das mensagens do PSD e, muito menos, de agente de sedução de novos militantes. É notoriamente um jornal feito por quem não sabe fazer jornais e que só mostra perceber do funcionamento das lógicas aparelhísticas que tomaram conta dos partidos políticos. Lógicas que, aliás, produzem um efeito contrário ao dos jornais, pois contribuem para fechar ainda mais um partido sobre aqueles que lá estão, em vez de abri-lo à sociedade e a novos seguidores.
Consultando a colecção digital recente do “Povo Livre”, no sítio oficial do PSD na Internet, verificamos que o líder Pedro Passos Coelho já é capa do jornal oficial do partido há 21 semanas consecutivas. A última capa que não teve uma foto enorme de Passos Coelho foi a da longínqua edição de 8 de Dezembro de 2010, em que a direcção do ”Povo Livre” escolheu a imagem de Francisco Sá Carneiro, para evocar o 30º aniversário da sua morte.
A escolha de Passos Coelho para capa do “Povo Livre” é legítima, mas o seu efeito é muito duvidoso, dado tratar-se de uma escolha constante. Será que ninguém da direcção nacional do PSD reparou neste grave erro de comunicação política, digno de um grupo amador, como classificaria Pedro Santana Lopes, ou a escolha é intencional?
Nem sequer discuto o conteúdo maçudo e previsível das páginas interiores, onde, por vezes, os textos são distribuídos numa única coluna tão larga como a página, talvez para não serem lidos. Voltemos à primeira página que, há várias semanas, tem ainda lugar para mais duas fotografias. Uma, a do canto superior esquerdo, também parece ter um dono, que é o secretário-geral Miguel Relvas, o chefe do aparelho. Já o ocupante da imagem do canto superior direito varia. Mas, na maior parte das edições, o lugar é ocupado por Marco António Costa, da poderosa Distrital do Porto, de onde, aliás, é oriundo Miguel Santos, o director da publicação.
Não conheço Pedro Passos Coelho só de agora. Há mais de 20 anos, participei em “worshops” de formação política, quando ele era vice-presidente do JSD e já demonstrava qualidades para ser um bom político. Hoje, Passos Coelho é bem melhor do que aquilo que tem conseguido comunicar. É esse valor natural que lhe pode valer a vitória das eleições de 5 de Junho.
No portefólio comunicacional de um partido político com vocação de poder governamental, um jornal oficial não pode ser encarado como um mero “pentelho” a que não se dá importância (para usar um vocábulo muito em voga na órbita laranja…). Ora, é também por desperdiçar meios de comunicação, como parece ser o caso do jornal oficial do PSD, que a liderança de Pedro Passos Coelho, ao contrário do que seria de esperar, revela dificuldades em afirmar-se como alternativa forte de Governo, não descolando de uma disputa renhida com José Sócrates, não obstante os índices de rejeição popular que afectam um primeiro-ministro socialista, que, curiosamente, já tem um lugar na história de Portugal por ter conduzido o País à bancarrota.

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